Poucos atacantes na história do futebol brasileiro enlouqueceram tanto os marcadores adversários quanto Nei. Dono de habilidade rara, o camisa 11 era praticamente imparável quando disparava com a bola dominada na canhota. Com regularidade técnica e muita lealdade, o ponta-esquerda, vindo da Ferroviária de Araraquara, foi titular absoluto da Segunda Academia e até hoje está entre os dez jogadores que mais entraram em campo pelo Palmeiras em todos os tempos.

A estreia aconteceu em 15 de janeiro de 1972, na goleada por 4 a 0 sobre o Santos, em amistoso disputado no Palestra Italia. “Tinha aquela ansiedade de chegar a um time grande e corresponder, mostrar o mesmo futebol que eu apresentava na Ferroviária”, lembra Nei, em entrevista ao Site Oficial do Palmeiras. Naquele dia, nem mesmo Pelé e Carlos Alberto Torres foram capazes de conter o ímpeto palestrino. “O Carlos Alberto Torres era um marcador excepcional. Enquanto os outros laterais marcavam o atleta, ele ficava de olho só na bola. Com os outros, você fingia que ia para um lado e já saia pelo outro. Com ele, não. Você podia sambar que ele ficava parado. O jeito era o Ademir da Guia encostar, tabelar e eu já sair em velocidade”, conta.

Peça fundamental da Segunda Academia, Nei havia sido contratado para disputar posição com Pio, ponta-esquerda que estava no clube desde 1969. A competição não atrapalhou a boa relação que os dois cultivavam desde os tempos de Ferroviária, quando Nei subiu das categorias de base e substituiu Pio, negociado justamente com o Verdão. Foi no lugar dele, inclusive, que o camisa 11 entrou em sua estreia pelo time alviverde.

“Ele me ajudou demais quando cheguei ao Palmeiras. Como eu era muito quieto, ele veio me cumprimentar assim que cheguei ao clube, me explicou como as coisas funcionavam lá e qual era o melhor jeito de lidar com o (técnico Oswaldo) Brandão. Falou que o treinador era muito sério, não gostava de brincadeiras e que eu precisaria trabalhar duro”, relembra Nei, que uma semana após estrear, em 22 de janeiro, marcou seu primeiro gol pelo Palmeiras, na goleada por 7 a 0 sobre o Steaua Bucareste (Romênia), no Palestra Italia.

Os primeiros jogos de 1972 serviram como prenúncio de uma temporada perfeita que viria – naquele ano, o Palmeiras conquistou todos os títulos que disputou: Campeonato Brasileiro, Campeonato Paulista, Torneio Mar Del Plata (Argentina), Taça Laudo Natel e Taça dos Invictos. Uma máquina de jogar futebol. Ou melhor, uma Academia. “O Brandão pedia para eu não passar do meio-campo na hora de marcar. Minha função era acompanhar o lateral só até uma parte, depois era com o pessoal lá atrás. Eu ficava com as pernas frescas e o lateral deles voltava cansado, então era mais fácil passar por ele. Tinha uma jogada clássica: o Luis Pereira tocava para o Ademir, e ele já lançava para os pontas em velocidade; um dos pontas (Nei e Edu) cruzava e o César Maluco ou Leivinha faziam de cabeça. Muitos gols saíram assim”, orgulha-se.

Nei ainda foi campeão brasileiro em 1973 e estadual outras duas vezes, em 1974 e 1976. “O título mais especial é o do Paulista de 1974, contra o Corinthians. Só os atletas do Palmeiras que estiveram em campo naquele dia podem falar sobre o jogo. O Morumbi estava lotado com a torcida deles, imprensa dando a vitória como certa e nosso rival com um time bem armado. Só esqueceram que o adversário era simplesmente o Palmeiras, uma equipe fortíssima e bicampeã brasileira em 1972 e 1973”, enaltece.

Ao todo, entre 1972 e 1980, Nei disputou 490 partidas pelo Verdão, sendo o nono atleta com mais jogos na história do clube, e marcou 70 gols. Teve ainda a honra de receber o prêmio Belfort Duarte, condecoração que, na época, era destinada apenas a atletas que conseguissem disputar ao menos 200 jogos em um período de no mínimo dez anos sem sofrer nenhuma punição disciplinar. Após a aposentadoria, em 1983, passou a morar em Ibitinga, no interior de São Paulo, e abriu uma pizzaria. Também deu aulas em uma escolinha de futebol local durante 20 anos.

Espetacular, imprescindível e grande pessoa: Nei na visão dos companheiros

Ademir da Guia
“O Nei era um jogador espetacular, que driblava muito. Era um rapaz muito quietinho, que veio da Ferroviária e não brigava com ninguém. Ele foi imprescindível para o sucesso que tivemos, era um jogador ideal para o sistema que utilizávamos, com dois homens abertos. Foi o grande ponta-esquerda do Palmeiras naquela década.”

Dudu
“O  Nei foi contratado para jogar no lugar do Pio, que também era muito bom, mas que tinha características diferentes. O Brandão queria um atleta mais incisivo, que partisse para cima dos laterais adversários e cruzasse, pois tínhamos dois ótimos cabeceadores no ataque (Leivinha e César Maluco). Após sua chegada, melhoramos nosso desempenho ofensivo, principalmente pelo lado esquerdo. Tanto é que ganhamos todos os títulos que disputamos em 1972.”

Edu Bala
“Além de um grande jogador, o Nei era uma grande pessoa, um cara extremamente educado e com uma família ótima. Em campo, atuava pelo lado esquerdo e, em alguns momentos, fechava para fazer um terceiro ou quarto homem de meio-campo. Quando ia até a linha de fundo, cruzava muito bem. Sempre sobrava uma bola para mim.”

Leivinha
“Foi um jogador muito importante para nós. Ele tinha duas características fundamentais: drible e cruzamento. Além disso, compunha muito bem o meio, então se tornou essencial taticamente. Do outro lado, pela direita, tínhamos o Edu Bala, que usávamos como desafogo por sua velocidade e sabíamos que ganharia de qualquer zagueiro na corrida.”

Elias Ferreira Sobrinho 15 de agosto de 1949
Nova Europa-SP

Posição: Ponta-esquerda

Número de temporadas: 9

Clube anterior: Ferroviária-SP

Jogos:

490 (255 vitórias, 154 empates e 81 derrotas)

Estreia: Palmeiras 4x0 Santos (15/01/1972)

Último jogo: Palmeiras 0x2 XV de Jaú (05/10/1980)

Gols: 70

Primeiro gol: Palmeiras 7x0 Steaua Bucareste (22/01/1972)

Último gol: Palmeiras 3x0 Portuguesa (21/09/1980)

Principais títulos:

Campeonato Paulista em 1972, 1974 e 1976; Campeonato Brasileiro em 1972 e 1973; Torneio Laudo Natel em 1972

Poucos atacantes na história do futebol brasileiro enlouqueceram tanto os marcadores adversários quanto Nei. Dono de habilidade rara, o camisa 11 era praticamente imparável quando disparava com a bola dominada na canhota. Com regularidade técnica e muita lealdade, o ponta-esquerda, vindo da Ferroviária de Araraquara, foi titular absoluto da Segunda Academia e até hoje está entre os dez jogadores que mais entraram em campo pelo Palmeiras em todos os tempos.

A estreia aconteceu em 15 de janeiro de 1972, na goleada por 4 a 0 sobre o Santos, em amistoso disputado no Palestra Italia. “Tinha aquela ansiedade de chegar a um time grande e corresponder, mostrar o mesmo futebol que eu apresentava na Ferroviária”, lembra Nei, em entrevista ao Site Oficial do Palmeiras. Naquele dia, nem mesmo Pelé e Carlos Alberto Torres foram capazes de conter o ímpeto palestrino. “O Carlos Alberto Torres era um marcador excepcional. Enquanto os outros laterais marcavam o atleta, ele ficava de olho só na bola. Com os outros, você fingia que ia para um lado e já saia pelo outro. Com ele, não. Você podia sambar que ele ficava parado. O jeito era o Ademir da Guia encostar, tabelar e eu já sair em velocidade”, conta.

Peça fundamental da Segunda Academia, Nei havia sido contratado para disputar posição com Pio, ponta-esquerda que estava no clube desde 1969. A competição não atrapalhou a boa relação que os dois cultivavam desde os tempos de Ferroviária, quando Nei subiu das categorias de base e substituiu Pio, negociado justamente com o Verdão. Foi no lugar dele, inclusive, que o camisa 11 entrou em sua estreia pelo time alviverde.

“Ele me ajudou demais quando cheguei ao Palmeiras. Como eu era muito quieto, ele veio me cumprimentar assim que cheguei ao clube, me explicou como as coisas funcionavam lá e qual era o melhor jeito de lidar com o (técnico Oswaldo) Brandão. Falou que o treinador era muito sério, não gostava de brincadeiras e que eu precisaria trabalhar duro”, relembra Nei, que uma semana após estrear, em 22 de janeiro, marcou seu primeiro gol pelo Palmeiras, na goleada por 7 a 0 sobre o Steaua Bucareste (Romênia), no Palestra Italia.

Os primeiros jogos de 1972 serviram como prenúncio de uma temporada perfeita que viria – naquele ano, o Palmeiras conquistou todos os títulos que disputou: Campeonato Brasileiro, Campeonato Paulista, Torneio Mar Del Plata (Argentina), Taça Laudo Natel e Taça dos Invictos. Uma máquina de jogar futebol. Ou melhor, uma Academia. “O Brandão pedia para eu não passar do meio-campo na hora de marcar. Minha função era acompanhar o lateral só até uma parte, depois era com o pessoal lá atrás. Eu ficava com as pernas frescas e o lateral deles voltava cansado, então era mais fácil passar por ele. Tinha uma jogada clássica: o Luis Pereira tocava para o Ademir, e ele já lançava para os pontas em velocidade; um dos pontas (Nei e Edu) cruzava e o César Maluco ou Leivinha faziam de cabeça. Muitos gols saíram assim”, orgulha-se.

Nei ainda foi campeão brasileiro em 1973 e estadual outras duas vezes, em 1974 e 1976. “O título mais especial é o do Paulista de 1974, contra o Corinthians. Só os atletas do Palmeiras que estiveram em campo naquele dia podem falar sobre o jogo. O Morumbi estava lotado com a torcida deles, imprensa dando a vitória como certa e nosso rival com um time bem armado. Só esqueceram que o adversário era simplesmente o Palmeiras, uma equipe fortíssima e bicampeã brasileira em 1972 e 1973”, enaltece.

Ao todo, entre 1972 e 1980, Nei disputou 490 partidas pelo Verdão, sendo o nono atleta com mais jogos na história do clube, e marcou 70 gols. Teve ainda a honra de receber o prêmio Belfort Duarte, condecoração que, na época, era destinada apenas a atletas que conseguissem disputar ao menos 200 jogos em um período de no mínimo dez anos sem sofrer nenhuma punição disciplinar. Após a aposentadoria, em 1983, passou a morar em Ibitinga, no interior de São Paulo, e abriu uma pizzaria. Também deu aulas em uma escolinha de futebol local durante 20 anos.

Espetacular, imprescindível e grande pessoa: Nei na visão dos companheiros

Ademir da Guia
“O Nei era um jogador espetacular, que driblava muito. Era um rapaz muito quietinho, que veio da Ferroviária e não brigava com ninguém. Ele foi imprescindível para o sucesso que tivemos, era um jogador ideal para o sistema que utilizávamos, com dois homens abertos. Foi o grande ponta-esquerda do Palmeiras naquela década.”

Dudu
“O  Nei foi contratado para jogar no lugar do Pio, que também era muito bom, mas que tinha características diferentes. O Brandão queria um atleta mais incisivo, que partisse para cima dos laterais adversários e cruzasse, pois tínhamos dois ótimos cabeceadores no ataque (Leivinha e César Maluco). Após sua chegada, melhoramos nosso desempenho ofensivo, principalmente pelo lado esquerdo. Tanto é que ganhamos todos os títulos que disputamos em 1972.”

Edu Bala
“Além de um grande jogador, o Nei era uma grande pessoa, um cara extremamente educado e com uma família ótima. Em campo, atuava pelo lado esquerdo e, em alguns momentos, fechava para fazer um terceiro ou quarto homem de meio-campo. Quando ia até a linha de fundo, cruzava muito bem. Sempre sobrava uma bola para mim.”

Leivinha
“Foi um jogador muito importante para nós. Ele tinha duas características fundamentais: drible e cruzamento. Além disso, compunha muito bem o meio, então se tornou essencial taticamente. Do outro lado, pela direita, tínhamos o Edu Bala, que usávamos como desafogo por sua velocidade e sabíamos que ganharia de qualquer zagueiro na corrida.”

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