A história da Sociedade Esportiva Palmeiras começa efetivamente em 1914 por iniciativa de, em sua maioria, moradores do à época italianíssimo bairro do Brás, em São Paulo, muitos deles funcionários das Indústrias Matarazzo, entusiasmados pela excursão do Torino-ITA e do Pro-Vercelli-ITA ao Brasil naquele mesmo ano. Um dos mais envolvidos era o jovem jornalista Vincenzo Ragognetti, que publicou no Fanfulla (órgão de imprensa voltado à colônia italiana na capital paulista) um convite aos interessados na fundação de uma agremiação esportiva que tivesse a representatividade que a imensa comunidade merecia.

O clube poderia ter sido fundado no dia 19 de agosto, mas não houve acordo com relação às diretrizes da instituição. Uma nova reunião, então, foi agendada para a semana seguinte, dia 26 de agosto de 1914, no extinto Salão Alhambra, situado na antiga Rua Marechal Deodoro, nº 2 (região onde hoje se localiza a Praça da Sé), e na presença de 46 pessoas (entre elas, italianos, brasileiros, dois portugueses e um espanhol) foi fundado o Palestra Italia – a palavra Palestra, de origem grega, significa em tradução livre da língua italiana “academia ou escola onde se pratica atividades físicas”.

Assinaram a ata de fundação os seguintes palestrinos:

Ezequiel Simoni [eleito presidente]
Luigi Emmanuelle Marzo [eleito vice-presidente]
Luigi Cervo [eleito secretário geral]
Antonio Aulicino [eleito vice-secretário]
Francesco De Vivo [eleito tesoureiro]
Alvaro F. da Silva [eleito 1º mestre de sala]
Francesco Morelli [eleito 2º mestre de sala]
Vicenzo Cilento [eleito inspetor de sala]
Adolfo Izzo [eleito inspetor de sala]
Oreste Giangrande [eleito revisor de contas]
Armando Rebucci [eleito revisor de contas]
Guido Giannetti [eleito revisor de contas]
Vincenzo Ragognetti [eleito diretor esportivo]

Alfonso de Azevedo
Alfonso Mosca
Alfredo Izzo
Alfredo Migliori
Amadeo Bucciarelli
Antonio Gallucci
Battista Mannini
Benedetto Rizzo
Carlos A. Magno
Clementino Del Ciello
Dante Corazza
Delfo Betti
Ercole Russo
Eugenio Gallo
Felice Fincato
Francesco Camargo
Gennaro Romano Filho
Giorgio Giannetti
Giovanni Barsanti
Giovanni Lamacchia
Giovanni Principato
Giulio Giannetti
Giuseppe Nigro
Giuseppe Prince
Luigi Izzo
Luigi Medici
Luigi Medici (fu Rosario)
Michele A. Ciello
Michele Tavollaro
Oberdan Zamboni
Onofrio Lilla
Pietro Gregoracci
Vicenzo Rizzo

Evidentemente que muitas outras pessoas foram responsáveis pela criação do Palestra mesmo não estando presentes na reunião, como, por exemplo, Ernesto Giuliano, que naquele dia viajava à trabalho. Outros tantos ajudaram a viabilizar financeiramente a empreitada e são distintos como fundadores beneméritos do clube, casos de Alexandro Marcondes Filho, Antonio G. de Gouveia, Arturo Spengler, Biagio Alario, Biagio Altieri, Filippo Tommaselli, Frederico Tommaselli, Giulio Pignatari, Giuseppe Tommaselli, Guilherme Kawall, Ippólito R. Costa, M. J. da Cunha, Menotti Falchi, Michele Doganiero, Nicola Serricchio, Paulo Siciliano, Rodolfo Kesserling, Vincenzo Latuchella e dos condes Adriano Crespi, Alessandro Siciliano, Andrea Matarazzo, Eduardo Matarazzo, Ermelino Matarazzo, Francesco Matarazzo e Rodolfo Crespi.

Apesar de já existirem algumas agremiações de essência italiana em São Paulo antes do Palestra Italia, nenhuma tinha o futebol como carro-chefe. Após as exibições do Torino e do Pró-Vercelli, porém, mais de uma dezena de clubes italianos de futebol surgiram só naquela mesma semana das excursões. Algumas tiveram vida curta, outras encontraram espaço nos campeonatos de várzea, e foi o Palestra o grande aglutinador da colônia e simpatizantes.

Como a Itália foi definitivamente unificada apenas no final do século XIX, ainda era perceptível no Brasil o agrupamento de imigrantes oriundos de uma mesma região, com calabrases, sicilianos, vênetos, napolitanos, entre outros, convivendo entre si e até falando seu próprio dialeto.

O Palestra, então, carregava a ambição de ratificar no Brasil a recém-concluída consolidação da Itália na Europa, formando um time que representasse a comunidade como um todo e, assim, pudesse brigar de frente com as grandes potências do futebol oficial da cidade. Por isso, em vez de entrar em campo sem a preparação adequada (perdendo jogos e desanimando seus seguidores, como ocorreu com vários outros times que surgiam na época), a equipe palestrina ficou meses treinando e realizando avaliações no campo da rua Major Maragliano, na Vila Mariana, a fim de reunir as melhores condições para disputar uma partida oficial.

Superadas as dificuldades iniciais que quase obrigaram o Palestra a encerrar prematuramente suas atividades em meio à Primeira Guerra Mundial, já que a agremiação perdeu sócios e jogadores que tiveram que lutar pela Itália, a primeira partida do novo clube foi disputada em 24 de janeiro de 1915, contra o Savoia, no atual município de Votorantim, em amistoso que terminou com vitória palestrina por 2 a 0, gols de Bianco e Alegretti, ambos de pênalti.

Disputando somente amistosos em seu primeiro ano de vida, o Palestra Italia conseguiu, em 1916, vaga no torneio estadual regido pela Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA) para participar de sua primeira competição oficial – cuja inscrição na liga já havia sido feita desde abril de 1915. A estreia no Campeonato Paulista ocorreu no dia 13 de maio daquele ano, no empate por 1 a 1 com o Mackenzie, vice-campeão estadual na temporada anterior.

Logo no ano seguinte, o clube tornou-se vice-campeão paulista e enfrentou pela primeira vez o Corinthians – vitória por 3 a 0, três gols de Caetano. Em 1918, porém, o Palestra abandonou a APEA em resposta à perseguição que sofria dos clubes de elite da cidade e dos consequentes e frequentes erros de arbitragem. Foi neste período que a Gripe Espanhola assolava a Europa e chegava a São Paulo. O clube, então, abriu suas instalações na Rua Libero Badaró à Cruz Vermelha, fazendo de lá um hospital. O gesto fez com que o Palestra ganhasse simpatia do povo, gerando uma pressão para que a equipe voltasse a figurar no quadro da APEA, o que aconteceu em 1919, culminando em mais um vice-campeonato.

Em 1920, apenas seis anos após a fundação, o time palestrino conquistou o título do Campeonato Paulista pela primeira vez na história, vencendo no jogo decisivo o poderoso Paulistano, então tetracampeão estadual, por 2 a 1.

Ao mesmo tempo em que se desenvolvia esportivamente, o Palestra também aumentava seu patrimônio. Em 1920, com o apoio da Companhia Matarazzo, o clube efetuou a compra do campo de futebol e de grande parte do terreno do Parque da Antarctica pelo valor de 500 contos de réis, uma fortuna à época. O contrato entre as partes foi firmado no dia 27 de abril de 1920. No mês seguinte, em 16 de maio, já como proprietário do estádio, o Palestra Italia goleou o Mackenzie por 7 a 0. Em agosto, o time conquistou a maior goleada de sua história em partidas oficiais: 11 a 0 sobre o Internacional, marca que permanece até os dias de hoje.

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