Waldemar Fiume vestiu a camisa alviverde por quase duas décadas. Logo aos 19 anos, foi titular na emblemática partida decisiva do Paulista de 1942, que selou o primeiro título do clube após o traumático episódio da mudança de nome. Aos 28, ajudou na conquista do primeiro Mundial de Clubes da história, lavando a alma do povo brasileiro depois da derrota da Seleção na Copa do Mundo de 1950. Quando pendurou as chuteiras, aos 35, era o atleta que mais havia jogado pelo Palmeiras desde a fundação – hoje, é o terceiro colocado.

Esteve presente na última partida do clube como Palestra Italia e na última como Palestra de São Paulo. Ganhou o apelido de Pai da Bola pela qualidade do seu jogo e pela capacidade tática de atuar em diversas posições, de atacante a zagueiro. Foi o segundo ídolo a ser imortalizado com um busto no clube social, depois de Junqueira. Motivos não faltam para que Waldemar Fiume seja considerado um dos grandes palmeirenses de todos os tempos.

Início na várzea e Arrancada Heroica

Filho do imigrante italiano Francesco Fiume e da brasileira Estefânia da Silva, Waldemar Fiume nasceu no dia 12 de outubro de 1922, em São Paulo (SP). Morou no bairro da Liberdade e trabalhou na gráfica da família durante o período em que foi jogador amador – exibia sua classe nos antigos campos de várzea do Glicério, bairro da região central da capital paulista, atuando por equipes como Santo Alberto F.C., Juvenil Alfa, Liberdade e Bangu do Glicério. Apesar de o pai não querer que ele fosse jogador profissional, as habilidades com a bola nos pés e o bom condicionamento físico fizeram seu nome chegar primeiro à diretoria do São Paulo. Não houve acerto, e os diretores palestrinos aproveitaram a chance de profissionalizar o garoto de 18 anos.

Debutou no quadro principal do Palestra Italia, clube do coração do pai, em 14 de setembro de 1941, na goleada por 4 a 0 diante do Comercial da capital. Exatamente um ano depois, em 14 de setembro de 1942, viu o clube alterar definitivamente o seu nome para Palmeiras a fim de se enquadrar nas leis brasileiras em meio à Segunda Guerra Mundial. Nem uma semana depois, no dia 20, estava em campo para uma das partidas mais tensas da história alviverde. Um jogo decisivo pelo Campeonato Paulista de 1942, e justamente contra o rival que mais incitou as perseguições ao clube devido à origem italiana.

Após entrar no gramado do Pacaembu empunhando a bandeira do Brasil junto a seus companheiros, Fiume saiu de campo naquele dia com o título de campeão invicto. O Verdão venceu o clássico por 3 a 0 e só não ampliou porque o rival se retirou do jogo depois da marcação de um pênalti para os palmeirenses. Era o primeiro troféu da carreira do jovem craque.

Pai da Bola conquista o mundo

Durante toda a década de 1940, Fiume foi um dos líderes técnicos e morais da equipe. Na reta final do Paulista de 1944, quando o Verdão teve o médio argentino Dacunto suspenso da partida decisiva contra o São Paulo por um recém-criado tribunal de justiça desportiva, Fiume assumiu definitivamente a posição que o consagraria para a eternidade. Apesar de atuar com certa regularidade em outras funções, inclusive a de zagueiro, foi como médio que o craque se tornou protagonista do time nas conquistas estaduais de 1944, 1947 e 1950.

Fiume nunca teve uma oportunidade na Seleção Brasileira. Apesar de cotado para a disputa do Sul-Americano de 1949 e para a própria Copa do Mundo de 1950 no Brasil, a primeira pós-guerra, o jogador foi preterido pelo técnico Flávio Costa, que achava o jogador “muito lento” para fazer exercer as funções táticas que ele vislumbrava. Com isso, foi só mais um brasileiro a assistir de longe à frustrante derrota verde-amarela para o Uruguai na decisão realizada no Maracanã.

No ano seguinte, quando foi realizado o primeiro Mundial de Clubes da história do futebol, Palmeiras e Vasco tinham a chance de redimir o futebol brasileiro. Afinal, a decisão da competição estava marcada para o mesmo Maracanã. Porém, desta vez foi uma contusão que impediu o craque disputar um título no então maior estádio do mundo.

Um dos destaques das conquistas do Rio-São Paulo e da Taça Cidade de São Paulo naquele ano de 1951, Fiume se contundiu em um amistoso contra o Arsenal-ING, no Pacaembu (vitória por 3 a 1), no dia 6 de junho, mesmo mês de início do Mundial de Clubes. Ainda assim, conseguiu jogar as três partidas da fase de grupos da competição. No entanto, no primeiro duelo da semifinal, contra o Vasco, voltou a sentir a lesão e foi substituído por Tulio até o final da competição. A ausência do ídolo serviu de combustível para os companheiros, que desbancaram os cariocas e depois superaram os italianos da Juventus em dois jogos finais. Fiume e os demais palmeirenses, portanto, tiveram a honra de colocar o Brasil no lugar mais alto do pódio do futebol mundial antes mesmo da Seleção Brasileira.

Despedida e homenagens

Com mais de 600 jogos no total, Fiume se despediu do Palmeiras como ídolo incontestável. É, até hoje, o segundo atleta com mais vitórias na história do clube, atrás só de Ademir da Guia. O adeus aconteceu em 17 de setembro de 1958, no empate por 1 a 1 diante São Paulo. Foi um jogo comum, sem festividade e tampouco cerimônia. No mês seguinte, entretanto, o jogador recebeu uma homenagem digna.

Era outubro de 1958, estádio Palestra Italia. Antes de a bola rolar na partida entre Palmeiras e XV de Piracicaba, Fiume entrou em campo e se despediu da torcida com uma volta olímpica ao lado dos jogadores juvenis. Foi aplaudido quando passou pela fila dos dois times postados. Romeu, filho do saudoso roupeiro Tamanqueiro, foi incumbido de colocar uma cadeira para que o craque descalçasse as chuteiras. O capitão Ivan, o presidente Mario Beni e o diretor Mario Fruguelli entregaram-lhe a camisa do clube e o convidaram, junto de sua esposa e filho, a assistir ao jogo na tribuna. O ídolo não sabia, mas haveria uma surpresa para depois da partida.

Terminado o confronto, Fiume foi convidado a comparecer aos jardins do estádio. Estava descendo as escadas ao lado da esposa e do filho de 10 anos, já com a bola do jogo que ganhara de presente nas mãos, quando viu o garoto correr. O menino tinha visto a bandeira do Palmeiras cobrindo algo e foi olhar o que havia embaixo. Voltou correndo e, atropelando o protocolo, escancarou: “Pai, você está aqui e está lá fora ao mesmo tempo! Fizeram você de ferro (sic)”. Lá estavam o pai, o filho, a bola. Era o busto do Pai da Bola eternizando a imagem de um dos símbolos de amor e dedicação ao futebol e, acima de tudo, ao Palmeiras.

Fiume ainda foi contratado no fim do ano seguinte pelo Bragantino só para disputar o Torneio Final de Acesso junto com outros veteranos. O time fez ótima campanha, mas ficou com o vice-campeonato.

O craque morreu no dia 6 de novembro de 1996. No mesmo ano, o vereador Dalmo Pessoa apresentou projeto para rebatizar uma praça paulistana com o nome do ídolo. A proposta foi aceita, e no dia 26 de fevereiro de 1997 uma das praças do Jardim das Palmeiras, na Zona Sul da capital, passou a se chamar Praça Waldemar Fiume.

Saiba mais:
>Especial: A Arrancada Heroica
>Especial Derby: TOP 10

Waldemar Fiume 12 de outubro de 1922
São Paulo-SP 6 de novembro de 1996

Posição: Volante

Número de temporadas: 17

Clube anterior: Nenhum

Jogos:

620 (352 vitórias, 120 empates e 148 derrotas)

Estreia: Palestra Italia 4x0 Comercial da Capital (14/09/1941)

Último jogo: Palmeiras 1x1 São Paulo (17/09/1958)

Gols: 27

Primeiro gol: Palestra Italia 4x3 Ypiranga-SP (21/09/1941)

Último gol: Palmeiras 2x2 Jabaquara (08/12/1957)

Principais títulos:

Campeonato Paulista em 1942, 1944, 1947 e 1950; Torneio Rio-São Paulo em 1951; Mundial Interclubes em 1951; Taça Cidade de São Paulo em 1945, 1950 e 1951; Torneio Início do Campeonato Paulista em 1942 e 1946

Waldemar Fiume vestiu a camisa alviverde por quase duas décadas. Logo aos 19 anos, foi titular na emblemática partida decisiva do Paulista de 1942, que selou o primeiro título do clube após o traumático episódio da mudança de nome. Aos 28, ajudou na conquista do primeiro Mundial de Clubes da história, lavando a alma do povo brasileiro depois da derrota da Seleção na Copa do Mundo de 1950. Quando pendurou as chuteiras, aos 35, era o atleta que mais havia jogado pelo Palmeiras desde a fundação – hoje, é o terceiro colocado.

Esteve presente na última partida do clube como Palestra Italia e na última como Palestra de São Paulo. Ganhou o apelido de Pai da Bola pela qualidade do seu jogo e pela capacidade tática de atuar em diversas posições, de atacante a zagueiro. Foi o segundo ídolo a ser imortalizado com um busto no clube social, depois de Junqueira. Motivos não faltam para que Waldemar Fiume seja considerado um dos grandes palmeirenses de todos os tempos.

Início na várzea e Arrancada Heroica

Filho do imigrante italiano Francesco Fiume e da brasileira Estefânia da Silva, Waldemar Fiume nasceu no dia 12 de outubro de 1922, em São Paulo (SP). Morou no bairro da Liberdade e trabalhou na gráfica da família durante o período em que foi jogador amador – exibia sua classe nos antigos campos de várzea do Glicério, bairro da região central da capital paulista, atuando por equipes como Santo Alberto F.C., Juvenil Alfa, Liberdade e Bangu do Glicério. Apesar de o pai não querer que ele fosse jogador profissional, as habilidades com a bola nos pés e o bom condicionamento físico fizeram seu nome chegar primeiro à diretoria do São Paulo. Não houve acerto, e os diretores palestrinos aproveitaram a chance de profissionalizar o garoto de 18 anos.

Debutou no quadro principal do Palestra Italia, clube do coração do pai, em 14 de setembro de 1941, na goleada por 4 a 0 diante do Comercial da capital. Exatamente um ano depois, em 14 de setembro de 1942, viu o clube alterar definitivamente o seu nome para Palmeiras a fim de se enquadrar nas leis brasileiras em meio à Segunda Guerra Mundial. Nem uma semana depois, no dia 20, estava em campo para uma das partidas mais tensas da história alviverde. Um jogo decisivo pelo Campeonato Paulista de 1942, e justamente contra o rival que mais incitou as perseguições ao clube devido à origem italiana.

Após entrar no gramado do Pacaembu empunhando a bandeira do Brasil junto a seus companheiros, Fiume saiu de campo naquele dia com o título de campeão invicto. O Verdão venceu o clássico por 3 a 0 e só não ampliou porque o rival se retirou do jogo depois da marcação de um pênalti para os palmeirenses. Era o primeiro troféu da carreira do jovem craque.

Pai da Bola conquista o mundo

Durante toda a década de 1940, Fiume foi um dos líderes técnicos e morais da equipe. Na reta final do Paulista de 1944, quando o Verdão teve o médio argentino Dacunto suspenso da partida decisiva contra o São Paulo por um recém-criado tribunal de justiça desportiva, Fiume assumiu definitivamente a posição que o consagraria para a eternidade. Apesar de atuar com certa regularidade em outras funções, inclusive a de zagueiro, foi como médio que o craque se tornou protagonista do time nas conquistas estaduais de 1944, 1947 e 1950.

Fiume nunca teve uma oportunidade na Seleção Brasileira. Apesar de cotado para a disputa do Sul-Americano de 1949 e para a própria Copa do Mundo de 1950 no Brasil, a primeira pós-guerra, o jogador foi preterido pelo técnico Flávio Costa, que achava o jogador “muito lento” para fazer exercer as funções táticas que ele vislumbrava. Com isso, foi só mais um brasileiro a assistir de longe à frustrante derrota verde-amarela para o Uruguai na decisão realizada no Maracanã.

No ano seguinte, quando foi realizado o primeiro Mundial de Clubes da história do futebol, Palmeiras e Vasco tinham a chance de redimir o futebol brasileiro. Afinal, a decisão da competição estava marcada para o mesmo Maracanã. Porém, desta vez foi uma contusão que impediu o craque disputar um título no então maior estádio do mundo.

Um dos destaques das conquistas do Rio-São Paulo e da Taça Cidade de São Paulo naquele ano de 1951, Fiume se contundiu em um amistoso contra o Arsenal-ING, no Pacaembu (vitória por 3 a 1), no dia 6 de junho, mesmo mês de início do Mundial de Clubes. Ainda assim, conseguiu jogar as três partidas da fase de grupos da competição. No entanto, no primeiro duelo da semifinal, contra o Vasco, voltou a sentir a lesão e foi substituído por Tulio até o final da competição. A ausência do ídolo serviu de combustível para os companheiros, que desbancaram os cariocas e depois superaram os italianos da Juventus em dois jogos finais. Fiume e os demais palmeirenses, portanto, tiveram a honra de colocar o Brasil no lugar mais alto do pódio do futebol mundial antes mesmo da Seleção Brasileira.

Despedida e homenagens

Com mais de 600 jogos no total, Fiume se despediu do Palmeiras como ídolo incontestável. É, até hoje, o segundo atleta com mais vitórias na história do clube, atrás só de Ademir da Guia. O adeus aconteceu em 17 de setembro de 1958, no empate por 1 a 1 diante São Paulo. Foi um jogo comum, sem festividade e tampouco cerimônia. No mês seguinte, entretanto, o jogador recebeu uma homenagem digna.

Era outubro de 1958, estádio Palestra Italia. Antes de a bola rolar na partida entre Palmeiras e XV de Piracicaba, Fiume entrou em campo e se despediu da torcida com uma volta olímpica ao lado dos jogadores juvenis. Foi aplaudido quando passou pela fila dos dois times postados. Romeu, filho do saudoso roupeiro Tamanqueiro, foi incumbido de colocar uma cadeira para que o craque descalçasse as chuteiras. O capitão Ivan, o presidente Mario Beni e o diretor Mario Fruguelli entregaram-lhe a camisa do clube e o convidaram, junto de sua esposa e filho, a assistir ao jogo na tribuna. O ídolo não sabia, mas haveria uma surpresa para depois da partida.

Terminado o confronto, Fiume foi convidado a comparecer aos jardins do estádio. Estava descendo as escadas ao lado da esposa e do filho de 10 anos, já com a bola do jogo que ganhara de presente nas mãos, quando viu o garoto correr. O menino tinha visto a bandeira do Palmeiras cobrindo algo e foi olhar o que havia embaixo. Voltou correndo e, atropelando o protocolo, escancarou: “Pai, você está aqui e está lá fora ao mesmo tempo! Fizeram você de ferro (sic)”. Lá estavam o pai, o filho, a bola. Era o busto do Pai da Bola eternizando a imagem de um dos símbolos de amor e dedicação ao futebol e, acima de tudo, ao Palmeiras.

Fiume ainda foi contratado no fim do ano seguinte pelo Bragantino só para disputar o Torneio Final de Acesso junto com outros veteranos. O time fez ótima campanha, mas ficou com o vice-campeonato.

O craque morreu no dia 6 de novembro de 1996. No mesmo ano, o vereador Dalmo Pessoa apresentou projeto para rebatizar uma praça paulistana com o nome do ídolo. A proposta foi aceita, e no dia 26 de fevereiro de 1997 uma das praças do Jardim das Palmeiras, na Zona Sul da capital, passou a se chamar Praça Waldemar Fiume.

Saiba mais:
>Especial: A Arrancada Heroica
>Especial Derby: TOP 10

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