Luis Pereira visita a Academia e fala em trabalhar no Palmeiras um dia

Agência Palmeiras
Marcelo Cazavia

Todo palmeirense, de qualquer idade, já ouviu falar em Luis Pereira. Tricampeão brasileiro (1969, 1972 e 1973), bicampeão paulista (1972 e 1974) e tricampeão do Troféu Ramón de Carranza, na Espanha (1969, 1974 e 1975), o ex-zagueiro é um dos ícones da geração mais vitoriosa da história do clube.

Há dez anos trabalhando nas categorias de base do Atlético de Madrid-ESP, Luis Pereira visitou a Academia de Futebol na última sexta-feira [01] para um encontro com o presidente Arnaldo Tirone e o vice de futebol Roberto Frizzo e concedeu uma entrevista exclusiva ao site oficial do Palmeiras.

“Eu tenho grandes amigos no Palmeiras, participei da fundação da Mancha Verde e cada vez que venho para cá sou muito bem recebido. Convidaram-me para dialogar com a diretoria do Palmeiras e trocar algumas ideias sobre o trabalho que faço com as categorias de base do Atlético de Madrid. O futuro de futebol é a base, e vim passar algumas experiências desses 10 anos que tenho de Espanha”, afirmou o ídolo.

Luis Pereira ocupa, atualmente, o cargo de presidente do Atlético de Madrid B. Cita como um dos exemplos de sucesso em sua gestão a ascensão do goleiro espanhol David De Gea, que, aos 20 anos de idade, acaba de ser escolhido pelo Manchester United para substituir o recém-aposentado Van der Sar, em uma transação que ultrapassou os 20 milhões de euros.

Para ele, a diferença básica do que ocorre na Europa em relação ao Brasil é que lá há “uma comunicação maior entre o futebol profissional e o futebol de base”. “Acho que os treinadores de todas as categorias precisam conversar constantemente, trocar informações sempre. Não são todos os atletas da base que vão vingar, mas é preciso dar oportunidade para alguns deles terem a experiência de treinar com os profissionais e eventualmente de sentirem a responsabilidade de defender a equipe principal”, afirma.

Essa filosofia de trabalho, aliás, vem sendo aplicada com maior atenção no Palmeiras desde o ano passado, com o retorno do técnico Luiz Felipe Scolari e do auxiliar Flávio Murtosa. Muitos jovens da base e do Palmeiras B já tiveram a oportunidade de “estagiar” com o grupo principal e até de entrar em campo, como ocorreu, por exemplo, com o lateral Luis Felipe, o zagueiro Gualberto, os volantes Bruno Turco e Fernando, o meia Jean e o atacante Miguel. Alguns já estão integrados ao grupo, como o lateral Gabriel Silva, o meia Patrik e o atacante Vinícius. E outros garotos seguem aprimorando a técnica em busca de uma futura chance, como os goleiros Fábio, Raphael Alemão e Carlos, o lateral Bruno e o meia Patrik Vieira.

Apesar de absolutamente ambientado e realizado no Atlético de Madrid, Luis Pereira revelou durante a entrevista que espera poder fazer no Palmeiras um trabalho semelhante ao que realiza na Espanha. “É tudo questão de oportunidade. Muita gente fala que não se pode pegar um time como o Palmeiras por que não tem experiência, mas ninguém nasce com experiência. Isso se adquire. Quem foi jogador, trabalhou com muitos treinadores, muitos dirigentes e aprendeu um pouco com cada um. Eu joguei cinco anos no Atlético de Madrid e eles apostaram em mim para fazer um trabalho de base. Não seria possível eu sair de lá neste momento, mas claro que eu gostaria de fazer um trabalho assim no Palmeiras, pois, palmeirense que sou, sempre tentarei ajudar o clube.”

O ex-jogador comentou também o fato de ser constantemente apontado no clube como referência quando o assunto é zagueiro – afinal, que torcedor nunca falou ou ouviu a frase “Esse é o novo Luis Pereira!” quando um defensor se destaca em campo? “É verdade, essa frase é célebre mesmo”, orgulha-se. “Eu fico muito feliz com isso. É uma alegria muito grande. Demonstra que o que plantei jogando no Palmeiras, estou colhendo até hoje. Esse tipo de elogio é fruto do meu trabalho, da minha vontade, do amor por aquilo que eu fazia. Lá na Espanha também se fala que não existe um zagueiro como Luis Pereira. É uma emoção muito grande para mim. E tomara que nunca haja mesmo, pois assim sempre vão lembrar de mim”, diverte-se.

As comparações com os atuais atletas, porém, são relativizadas pelo ídolo. “Cada um tem a sua característica, teve o seu tempo, o seu espaço. O futebol mudou, e a característica do jogador também mudou. Antigamente, existia um tipo de líbero, que saía jogando. Fazia parte do esquema tático. Hoje em dia, o futebol é outro, e muitas vezes é necessário que o zagueiro seja só zagueiro mesmo”, analisa. “Eu acho que o jogador tem sempre de conhecer outras posições para desenvolver novas habilidades. Se você está em uma equipe grande, tem que desenvolver todo o potencial para estar ali. Mas é como eu disse, cada atleta tem sua característica, e o próprio futebol muda de característica sempre”, completa.

Revelado pelo São Bento de Sorocaba, Luis Pereira defendeu o Palmeiras de 1968 a 1975 em sua primeira passagem e, após o título do Ramón de Carranza de 1975, foi vendido ao Atlético de Madrid, onde ficou até 1980. Repatriado pelo Flamengo naquele ano, voltou ao Palestra Itália em 1981 e jogou até 1984. Já veterano, com 35 anos de idade, rodou por vários outros clubes até pendurar as chuteiras em 1993. Mas a ligação com o Verdão jamais foi abalada. E é esse tipo de identificação e comprometimento com o Palmeiras que o ídolo espera ver no atual elenco.

“O Palmeiras tem um grande treinador, pelo qual tenho uma admiração muito grande, mas treinador não ganha jogo ou campeonato. Ele ajuda, mas quem ganha são os jogadores. E o que espero é que os jogadores tenham a consciência de vestir a camisa do Palmeiras como a segunda pele. Não adianta jogar hoje aqui, beijar o escudo e depois fazer o mesmo em outro clube. Se está aqui, beije esse escudo, honre-o e sacrifique-se ao máximo.”

Ficha técnica:
Nome: Luis Edmundo Pereira
Nascimento: 21 de junho de 1949, em Juazeiro (BA)
Período em que defendeu o Palmeiras: 1968 a 1975 e 1981 a 1984
Títulos pelo Palmeiras: Tricampeão brasileiro (1969, 1972 e 1973), tricampeão do Troféu Ramón de Carranza (1969, 1974 e 1975), bicampeão paulista (1972 e 1974), campeão da Copa da Grécia (1970), campeão do Torneio Mar del Plata (1972) e campeão do Torneio Laudo Natel (1972)
Retrospecto no Palmeiras: 568 jogos (é o sexto atleta que mais atuou pelo clube na história, atrás de Valdemar Carabina, com 584), 283 vitórias, 193 empates e 92 derrotas, com 35 gols marcados.